Eu chorei no domingo, na segunda, na terça, em várias partes do dia e da noite, um choro de quem pede clemência, de quem está sendo confrontado com a morte, eu estava abandonando uma vida que não teria mais, eu sofria minha própria despedida, morte e parto, eu tinha que renascer e não queria, não quero, sinto que caí num vácuo, perdi a parte boa da minha história, e não quero outra, enquanto choro penso que se alguém me visse chorar dessa maneira me salvaria, prestaria socorro, chamaria uma ambulância.
Acho que nunca mais e isso me apavora, o "nunca mais" que me persegue desde o momento em que acordo e que me dá medo e me faz voltar a ser criança, medo de nunca mais viver o que vivi, sentir o que senti, medo de não conseguir aguentar viver sem você e o medo maior de todos, que é o de enlouquecer, porque o que me resta de sanidade me avisa: estou pirando, eu sei. Esse final de amor me roubou o juízo, eu era uma mulher consciente, eu não perdia o chão desse jeito, eu já sofri outras vezes, mas sofria com mais discernimento, sem essa vertigem que faz parecer que a queda não tem fim e que não vou acordar tão cedo.
Todas as noites eu rezo pra Deus pedindo desculpas pelo sofrimento mesquinho, menor. Tanta mãe que perdeu filho, tanto trabalhador que perdeu casa em enchente, tanto jovem que perdeu braço, perna, tanto cego e tanto pobre, tanta criança pedindo esmola de pés descalços, tanto desempregado humilhado, tanta gente pedindo dinheiro emprestado para não ter a luz cortada, tanta mulher que foi deixada depois de 20 anos de credulidade no amor e que ficou com os três filhos pra criar, pra sustentar, pra explicar, tanta gente chegando aos 70, aos 80, olhando pra trás e não vendo sentido em nada do que foi vivido, se deparando com o tempo desperdiçado, e mesmo assim eu rezo e ocupo ainda mais a agenda do Senhor por causa de um traste que me trocou por outra sem me deixar aleijada ou sem teto, apenas me deixou, apenas me deixou, apenas isso. Pai de todos, tão atarefado e ainda tendo que se ocupar comigo, logo eu que nunca lhe dei crédito antes, pecadora por desprezo e falta, eu que nunca precisei, mas que agora ajoelho e imploro por benção: Deus, Pai, Senhor, seja você quem for, tire esse homem do centro das minhas atenções.
Preciso que saiba: nunca deixarei de pensar em você, porque você foi o amor menos elaborado que tive, menos politicamente correto, menos "O cara certo no momento certo", menos criado no cativeiro da idealização, e essa impossibilidade de intelectualizar o que senti me faz pensar que talvez eu não estivesse enganada sobre aquela ideia romântica de que só se ama assim uma vez.
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