"Minha voz é seca. Quando falo, tropeço em pedras. Sou na consistência da dureza, mas flutuo. É que, na minha espera, imito a pluma. E desvaneço as nuvens quando durmo, sonâmbula na madrugada azul sem luas. Todas as horas pesam. E eu tenho o pretexto da espera para levitar: sou alada como uma bruxa. Voando, vibro. Sou um instrumento de sopro, mas sem finalidade. Sôo, côncava, na tessitura de um acorde. Então me alargo. Disponho a gramatura de uma nota sobre o campo, como um lençol estendido de girassóis: sou amarela. E peco por esperar. Tudo que vislumbro são sinais sem eco. Minha espera é vazia. Compartilho com a maré a redundância da falta. E me repito na ausência de uma resposta: eu sou aquela que lançou a dúvida no espelho. Todos os minutos são iguais. Meu gesto se intercala entre tédio e tédio, fome e fome. Sou é no apetite do etéreo. Abro a exuberância do dia sem opção,na calada da tarde, no improviso da sílaba. E o que recolho são instantes murchos: a flor é para quem acredita. E a solidão do espinho do limão reverbera em minha voz plena de sais, de águas secas. Tenho todo o tempo da espera, menos a vida. Possuo a febre do inacessível. Tento e me tapo. Saboreio a tremura de um frio na alma, eu toda ardente de neve: só sou barroca porque me perco. E engulo letras azuis."

Nenhum comentário:
Postar um comentário