15.7.11

"Tudo é seco.

Então meu esforço é inventar umidades para cada coisa que toco. Quando me disseste que eu podia, havia uma verdade bonita na tua voz. Falavas sobre ser maior que meu medo, me ocupar mais comigo que com meu desamparo, ser mais habitante de mim que os meus abandonos.

Disseste que no início não era fácil, mas que depois era só sentar de frente para uma janela e aceitar a claridade do dia, aceitar as horas que passam, aceitar-me e descansar no meu corpo acidentado de mim.

Mas é que hoje acordei e a paz era tão outra coisa. E eu era menor que tudo e não havia nenhum motivo para mim dentro do ônibus na rua na travessia até um lugar qualquer. E tu vieste, para me lembrar que meu erro era a minha procura. Que ser completa me empobreceria, que eu sempre precisaria de faltas para me justificar.

Tu, diante daquele céu azul-céu, todo emaranhado nas tuas próprias perdas, me ensinando a dar novos nomes para a escuridão. Eu te falei que não saberia tentar, que persistiria inventando uma pele para tudo, nomeando cada um dos meus espaços vazios.

Então ficaste me olhando por muito tempo antes de me deixar, porque não havia nada que eu precisasse mais do que ser deixada. Ali, de frente para aquele mar azul-mar; tão mais úmido, cheio e fácil de aceitar."

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