" ...e
de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e
me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e
abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo
assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e
assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me
apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que
jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida,
que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me
queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim,
eu digerindo faminto o que teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno
porco que me ilumina e me anoitece a cada dia, e passo a passo afundo
nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim,
nos afastamos depois cautelosos ao entardecer, e na solidão de cada um
sei que tecemos lentos nossa próxima mentira, tão bem urdida que na
manhã seguinte será como verdade pura e sorriremos amenos, desviando os
olhos, corriqueiros, à medida que o dia avança estruturando milímetro a
milímetro uma harmonia que só desabará levemente em cada roçar temeroso
de olhos ou de peles."
- Caio F.
à beira do mar aberto
[FOR THE BOY OF MY NIGHTS]
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