6.7.09

"Não disponho de nenhum sigilo, pratico catarses pela avenida intransigente. Casualidade: temo pelas horas que virão. Ainda ontem me pus de frente ao nada - as horas pesadas, meu corpo retraído, procurando evitá-lo de todas as maneiras. Ele não se engana quando diz que não me entende. Não existe entendimento, há apenas o vasto e terrível reconhecimento de si. Eu o penso inteiro, mas breve caio na lucidez da sua desaparição. Faço de seu olho meu mais grave espelho, e me improviso - feia, pouca, gasta. Então eu visto vermelho, mostro que sou carne, borro os olhos com nanquim. Feito mulher rasgada, de risinho estridente e olhar de sortilégio, me mostro explícita ao mundo que não toco na busca de algum olhar, algum roçar, algum atingimento que me ponha de frente a isso que procuro todo instante: o lampejo de um encontro.
Quando me toca, me alegram seus impulsos. Me alegra suas mãos serem breves, sua fala ser febril. Quero o desatar de suas palavras despencando no meu corpo, recebê-lo impulso, edema, lampejo. Quero sua presença se fazendo instante, sem receio da mácula, sem cansaço do olhar."

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